
Voltei para ver outra vez
Aquele mesmo bar e restaurante
Do centro do bairro da Boa Vista,
Na cidade maurícia do Recife.
Logo de início,
Pedi um copo de chopp bem gelado,
Para matar a saudade
De anos e anos sem poder revê-lo.
A distância era grande,
E as barreiras são tantas,
Pois quando ali sentei,
Depois de tanto tempo,
Me pareceu ouvir o poeta versejar:
"São trita copos de chope,
são trinta homens sentados,
trezentos desejos feitos,
trinta mil sonhos frustrados".
Voltei no tempo e no espaço,
E me pareceu um momento
Estar assistindo ao Mauro,
Com um copo de chope na mão,
Declamando esses tão famosos versos...
Não digo isso por mim,
Mas por todos os que lá sentaram
E viveram a época de ouro
Do velho Bar Savoy.
No aconchego daquela casa,
Fiz-me jovem, fiz-me forte
E no cajado da sorte
Recordei o Antenor,
O meu saudoso" Careca"
Um lorde no atendimento.
Luiz, Geraldo, Everaldo,
O índio rei do traçado,
Hoje, eu sei, advogado
Distante de todas essas coisas
Com o seu sorriso de matuto arteiro,
Era um companheiro, enfim.
No exílio, no regresso,
Na entrada, na saída,
Na chegada, na partida,
A saudade me remoe...
Por isso passo em revista
Nessa minha revisita
Meu querido Bar Savoy!
Nesses versos eu revejo
Nossa distante juventude
Quando, com muita saúde
Tomamos porres colossais...
Guardo com muita saudade
Imagens que o tempo não corroe
Por isso, passo em revista
Nessa minha revisita
Meu querido Bar Savoy Bar Savoy
Bar Savoy de outros tempos
Outros anos, outras datas
Festas, carnavais, passeatas...
Tudo era motivo
Para uma ligeira passada,
Para um papo, com ou sem compromisso
Entre um e outro gole
Nas mesas na avenida espalhadas,
Entre choros, mágoas e risadas
Espalhavam-se os sentimentos
Reencontros, despedidas
Chegadas, vindas e saídas
Um drama em cada vida
Porisso, passo em revista
Minha alegre revisita
Ao meu querido Bar Savoy!
Mas, enganou-se na conta do poeta,
Por conta da singeleza, que era
O Recife daqueles tempos!
Se hoje fosse o Mauro fazer
Aquela poesia então,
Seria mais ou menos assim:
São trinta copos de chope,
Com trezentos homens sentados,
Trezentos desejos feitos,
Trinta mil sonhos frustrados.
O poeta não contava com a
Legião dos desempregados;
A tropa dos desassistidos,
O desfile dos desesperados
A procissão dos andrajos
Morais e espirituais.
Então o texto ficaria assim:
Para cada mil copos de chope,
Haveria mil homens sentados
Cem mil desejos feitos,
Um milhão de sonhos frustrados!!!!
Gil Morais (Recife, 08/03/99) Membro da Academia Belojardinense de Letras