sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Meu Carnaval é de Cinzas

TEMPO em que sinto-me algo estranho, deslocado,
Pois se vivo o ano todo, a vida toda a sorrir,
Por que haveria, bem agora, de fazer diferente,
Já que contrariar é a regra, quando regra não há?

Feriado em que pareço bem mais sério, calado,
Pois se passo os dias, a cada dia como sendo único,
Por que teria, justo hoje, de ser de outro jeito,
Já que o irreal é o real, quando realidade não há?

Reinado de Momo, Baco tropical sem bagos, nem uvas,
Cercado, de fato, por rainhas e princesas efêmeras,
Cujos pés e passos não param, frenéticos, há horas,
Cobertas de prata, banhadas em suor, desejos e aplausos .

Início do fim de longa hibernação, letargia coletiva,
Marca, na prática, o começo de um ano já não inteiro,
De cumprir-se as promessas esquecidas há dois meses,
Vestidas de branco, regadas a licor, brindes e borbulhas.

Meu Carnaval é de Cinzas, do grito à quarta-feira derradeira,
Meu Ano Novo atrasado, há várias semanas parado, incerto e preguiçoso,
Pois não me basta estar palhaço, rei ou otimista só por três dias,
Quero rir, reinar e viver todos os dias, ser eu mesmo e mais ninguém!



Milford Maia