terça-feira, 8 de junho de 2010

Evocação do Recife


[…]
Me lembro de todos os pregões:
Ovos frescos e baratos
Dez ovos por uma pataca
Foi há muito tempo...
A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros
Vinha da boca do povo na língua errada do povo
Língua certa do povo
Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil
Ao passo que nós
O que fazemos
É macaquear
A sintaxe lusíada
A vida com uma porção de coisas que eu não entendia bem
Terras que não sabia onde ficavam
Recife...
Rua da União...
A casa de meu avô...
Nunca pensei que ela acabasse!
Tudo lá parecia impregnado de eternidade
Recife...
Meu avô morto.
Recife morto, Recife bom, Recife brasileiro
como a casa de meu avô.


Manuel Bandeira



Sobre o Autor

Professor de literatura, crítico literário, tradutor brasileiro, o poeta e prosador recifense Manuel Bandeira (1886-1968) é um dos precursores do modernismo brasileiro, o que levou Mário de Andrade a mencioná-lo como "São João Batista do modernismo brasileiro". Eleito para a Academia Brasileira de Letras, onde ocupou a cadeira 24, Manuel Bandeira foi sepultado no mausoléu da Academia, no Rio de Janeiro.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Novo IMORTAL da Academia Brasileira de Letras é pernambucano.


O diplomata e escritor Geraldo Holanda Cavalcanti, de 81 anos, é o novo ocupante da Cadeira 29 da Academia Brasileira de Letras (ABL). A eleição secreta foi realizada na tarde desta quarta-feira (2), na sede da instituição, no Centro do Rio. Cavalcanti sucede o bibliófilo José Mindlin, que morreu em São Paulo no dia 28 de fevereiro deste ano.
Concorriam à vaga o advogado, escritor e Ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Eros Grau; o compositor e escritor Martinho da Vila; e o escritor, ensaísta e atual presidente da Biblioteca Nacional, Muniz Sodré.
A novo acadêmico recebeu 20 dos 39 votos possíveis. Em segundo ficou o candidato Eros Grau, com 10, seguido de Muniz Sodré, com 8. Um voto foi em branco e Martinho da Vila não foi votado.
"É um momento importante e comovente na minha vida. Sinto-me recompensado por meu trabalho literário, que desenvolvo há muitos anos. Ser membro da ABL é realmente uma grande satisfação. Mas também sei que, por ser uma instituição que promove várias atividades, vai me exigir muita dedicação", declarou o escritor, agora imortal, acrescentando que mantinha algum otimismo com relação ao resultado da votação.
"É muito difícil fazer qualquer tipo de previsão, pois o voto é secreto. Ao mesmo tempo, tenho muitos amigos por lá, conheço boa parte dos membros e sei de suas preferências. Por isso, tinha uma boa expectativa", revelou .
Diplomata e poeta
Nascido em 6 de fevereiro de 1929, o pernambucano graduou-se Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito do Recife, em 1951. Diplomata por mais de quatro décadas, profissão a que dedicou a maior parte de seu tempo, serviu em Genebra, Washington, Moscou e Bonn, entre outras grandes cidades.
Seu pontapé inicial da literatura foi em 1964, com o livro de poesias "O Mandiocal de verdes mãos". Em 1998 foi publicada "Poesia reunida", coletânea de textos, entre inéditos e já divulgados, pelo qual conquistou o prêmio Fernando Pessoa, da União Brasileira de Escritores (UBE).
Em 2007 lançou seu primeiro livro de ficção "Encontro em Ouro Preto" (Record), obra finalista do Prêmio Jabuti 2008 na categoria "Melhor Livro de Contos e Crônicas". Este ano, pela mesma editora, publicou o livro de memórias "As desventuras da graça".
A Cadeira 29 foi fundada por Artur Azevedo, que escolheu como patrono Martins Pena, e ocupada posteriormente por Vicente de Carvalho, Cláudio de Souza e Josué Montello.