sábado, 19 de abril de 2008

Pioneiro do rádio saiu de Belo Jardim

Ademar Casé é daquelas figuras que muita gente gostaria de ter conhecido. Nascido numa família de poucas posses, em Belo Jardim, no interior de Pernambuco, se tornou conhecido nacionalmente pelo programa de rádio que levava seu nome e ficou no ar durante 20 anos, a partir de 1932. Casé se firmou mais como produtor do que como artista e a família agora busca resgatar sua memória. Um dos responsáveis por dinamizar a programação do rádio, criando espaço para os músicos e cantores e valorizando o teatro e a música clássica nos estúdios, ele é tema do documentário Programa Casé - O Pioneiro da História, que está sendo preparado pela Pindorama Filmes, produtora da atriz Regina Casé e seu marido, o fotógrafo e diretor de cinema e TV, Estevão Ciavatta.

Com apoio do Governo de Pernambuco e da Prefeitura de Belo Jardim, Estevão esteve com a família e a equipe de filmagens no interior do Estado no fim de semana passado. Eles gravaram na Feira de Caruaru e no Alto do Moura, onde Geraldo Casé, pai da atriz e primogênitode Ademar Casé, visitou a Casa de Mestre Vitalino. "Estamos refazendo a viagem que meu pai fez com a família em 1948. Ele voltou a Belo Jardim quando melhorou de vida, veio de navio, trazendo o carro importado. Papai chegou a vender laranjas no porto, vendeu rádios Philips e estar aqui de novo é uma experiência inusitada", garante Geraldo Casé.
O grupo, com 11 pessoas, sendo seis da equipe de filmagem, teve passagens aéreas e hospedagens pagas pelo Governo. Mas o documentário, orçado em R$ 800 mil, está inscrito nas Leis Rouanet e do ICMS do Rio de Janeiro, equivalente ao Sistema de Incentivo à Cultura Estadual e precisa de verba para ser finalizado. O projeto vem sendo tocado há cinco anos. "Estamos atrás de financiamento para terminar a produção. O que talvez aconteça no final deste ano", adianta Estevão Ciavatta, que também dirige o Um Pé De Quê?, programa da TV Futura, que mostra as árvores existentes em território brasileiro.

Além dele, de Regina Casé e do pai da atriz, participaram da viagem, Benedita, filha de Regina, Virgínia, irmã da atriz, e outros bisnetos de Ademar. Em Belo Jardim, a pequena caravana de Regina Casé recebeu homenagens e ajudou a inaugurar o laboratório de informática da faculdade Fabeja (Autarquia Educacional de Belo Jardim). "Acho fantástico que tenha sido algo ligado à tecnologia, porque meu avô adorava a modernidade, sem perder os costumes nordestinos. Se a fita cassete enganchava no rádio, ele metia uma peixeira", conta Regina.

A hora do cansaço

As coisas que amamos,
as pessoas que amamos
são eternas até certo ponto.
Duram o infinito variável
no limite de nosso poder
de respirar a eternidade.

Pensá-las é pensar que não acabam nunca,
dar-lhes moldura de granito.
De outra matéria se tornam, absoluta,
numa outra (maior) realidade.

Começam a esmaecer quando nos cansamos,
e todos nos cansamos, por um outro itinerário,
de aspirar a resina do eterno.
Já não pretendemos que sejam imperecíveis.
Restituímos cada ser e coisa à condição precária,
rebaixamos o amor ao estado de utilidade.

Do sonho de eterno fica esse gosto ocre
na boca ou na mente, sei lá, talvez no ar.

(Carlos Drummond de Andrade)

Colaboração de LUANNA ALBUQUERQUE BORGES

quarta-feira, 16 de abril de 2008

JOAQUIM NABUCO

Joaquim Nabuco ou Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo, nasceu em 19 de Agosto de 1849 em Pernambuco, faleceu em 17 de Janeiro de 1910 em Washington, DC. Filho de um rico jurista e político baiano, José Thomaz Nabuco de Araújo, que se radicou no Recife, Joaquim Nabuco se opôs de maneira veemente a escravidão, contra a qual ele lutou tanto por meio de atividades políticas e quanto de seus escritos. Ele fez campanha contra a escravidão na Câmara dos Deputados de 1878, e fundou a Sociedade Anti-Escravidão Brasileira. Ele foi em grande parte responsável pela abolição da escravidão em 1888, e depois da derrubada da monarquia brasileira ele se retirou da vida pública por algum tempo.
AS FRASES ABAIXO DE JOAQUIM NABUCO, FICARAM NA HISTÓRIA:
1 - Uma das maiores burlas dos nossos tempos terá sido o prestígio da imprensa. Atrás do jornal, não vemos os escritores, compondo a sós o seu artigo. Vemos as massas que o vão ler e que, por compartilhar dessa ilusão, o repetirão como se fosse o seu próprio oráculo.
2 - O pensamento, apesar de tudo, é uma esterilização. Não há perigo de que ele venha, algum dia, a triunfar sobre a natureza, que é a vida.
3 - Os invejosos invejam-se reciprocamente.
4 - A oposição será sempre popular; é o prato servido à multidão que não logra participar no banquete.
5 - O reinado da mulher talvez venha um dia a ser realidade, mas será precedido por uma greve geral do amor. O sexo que suportar por mais tempo essa inatividade acabará por triunfar sobre o outro.
6 - A escravidão não consetiu que nos organizássemos e sem povo as instituições não tem apoio, a sociedade não tem alicerce.
7 - ...enquanto a nação não tiver consciência de que lhe é indispensável adaptar à liberedade cada um dos aparelhos do seu organismo de que a escravidão se apropiou, a obra desta irá por diante mesmo que não haja mais escavos.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

NELSON RODRIGUES

"Sou um menino que vê o amor pelo buraco da fechadura. Nunca fui outra coisa. Nasci menino, hei de morrer menino. E o buraco da fechadura é, realmente, a minha ótica de ficcionista. Sou (e sempre fui) um anjo pornográfico."

Nelson Rodrigues nasceu da cidade do Recife - PE, em 23 de agosto de 1912, quinto filho dos catorze que o casal Maria Esther Falcão e o jornalista Mário Rodrigues puseram no mundo. Os nascidos no Recife, além do biografado, foram Milton, Roberto, Mário Filho, Stella e Joffre. No Rio de Janeiro nasceram os outros oito: Maria Clara, Augustinho, Irene, Paulo, Helena, Dorinha, Elsinha e Dulcinha.
Seu pai, deputado e jornalista do Jornal do Recife, por problemas políticos resolve se mudar para o Rio de Janeiro, onde vem trabalhar como redator parlamentar do jornal Correio da Manhã. Em julho de 1916, d. Maria Esther e filhos chegam ao Rio de Janeiro num vapor do Lloyd.
Haviam vendido tudo no Recife para cobrir as despesas de viagem, e tiveram que ficar hospedados na casa de Olegário Mariano por algum tempo. Em agosto de 1916 alugaram uma casa na Aldeia Campista, bairro da Zona Norte da cidade, na rua Alegre, 135, onde a família Rodrigues teve seu primeiro teto na cidade.
Com o autor vivendo seu quarto ano de vida, um fato pitoresco: uma vizinha, d. Caridade, invade a sua casa e diz para sua mãe: "Todos os seus filhos podem freqüentar a minha casa, dona Esther. Menos o Nelson." Como ninguém entendesse a razão de tal proibição, ela afirmou: vira Nelson aos beijos com sua filha Odélia, de três anos, com ele sobre ela, numa atitude assim, assim. Tarado!
Nelson inicia sua carreira jornalística em 29 de dezembro de 1925, como repórter de polícia, ganhando trinta mil réis por mês. Tinha treze anos e meio, era alto, magro e seus cabelos eram indomáveis. Embora fosse filho do patrão, teve que comprar calças compridas para impor respeito aos colegas de redação.
Ali reuniam-se colaboradores ilustres: Antônio Torres, Monteiro Lobato, Medeiros e Albuquerque, Agripino Grieco, Ronald de Carvalho, Maurício de Lacerda e José do Patrocínio. Além desses, havia a turma da casa: Danton Jobim, Orestes Barbosa, Renato Viana, Joracy Camargo, Odilon Azevedo e Henrique Pongetti. Outra figura de A Manhã era Apparício Torelly — Apporely — que mais tarde se autodenominaria "Barão de Itararé" e fundaria seu próprio jornal, A Manha.
O autor impressiona os colegas com sua capacidade de dramatizar pequenos acontecimentos. Especializou-se em descrever pactos de morte entre jovens namorados, tão constantes naquela época.
Romances:
1 - Meu destino é pecar,"O Jornal" - 1944 / "Edições O Cruzeiro" - 1944 (como "Suzana Flag")
2 - Escravas do amor, "O Jornal" - 1944 / "Edições O Cruzeiro" - 1946 (como "Suzana Flag")
3 - Minha vida, "O Jornal" - 1946 / "Edições O Cruzeiro" - 1946 (como "Suzana Flag")
4 - Núpcias de fogo, "O Jornal" - 1948. Inédito em livro. (como "Suzana Flag")
5 - A mulher que amou demais, "Diário da Noite" - 1949. Inédito em livro. (Como Myrna)
6 - O homem proibido, "Última Hora" - 1951. "Editora Nova Fronteira", Rio, 1981 (como Suzana Flag).
7 -A mentira, "Flan" - 1953. Inédito em livro. (Como Suzana Flag).
8 - Asfalto selvagem, "Ultima Hora" - 1959-60. J.Ozon Editor, Rio, 1960. Dois volumes. (Como Nelson Rodrigues)
9 - O casamento, Editora Guanabara, Rio, 1966 (como Nelson Rodrigues).
10 - Engraçadinha: seus amores e pecados, "Companhia das Letras.
11 - Núpcias de fogo, "Companhia das Letras", São Paulo. (como Suzana Flag).
Contos:
- Cem contos escolhidos - A vida como ela é..., J. Ozon Editor, Rio, 1961. Dois volumes.
- Elas gostam de apanhar, "Bloch Editores", Rio, 1974.
- A vida como ela é — O homem fiel e outros contos, "Companhia das Letras", São Paulo, 1992. Seleção: Ruy Castro.
- A dama do lotação e outros contos e crônicas, "Companhia das Letras", São Paulo.
- A coroa de orquídeas, "Companhia das Letras", São Paulo.
Crônicas:
- Memórias de Nelson Rodrigues, "Correio da Manhã" / "Edições Correio da Manhã", Rio, 1967.
- O óbvio ululante, "O Globo" / "Editora Eldorado", Rio, 1968.
- A cabra vadia, "O Globo" / "Editora Eldorado", Rio, 1970.
- O reacionário, "Correio da Manhã" e "O Globo" / "Editora Record", Rio, 1977.
- O óbvio ululante — Primeiras confissões, "Companhia das Letras", São Paulo, 1993. Seleção: Ruy Castro.
- O remador de Ben-Hur - Confissões culturais, "Companhia das Letras", São Paulo.
- A cabra vadia - Novas confissões, "Companhia das Letras", São Paulo.
- O reacionário - Memórias e Confissões, "Companhia das Letras", São Paulo.
- A pátria sem chuteiras - Novas crônicas de futebol, "Companhia das Letras"

MOVIMENTO ARMORIAL

A Arte Armorial Brasileira é aquela que tem como traço comum principal a ligação com o espírito mágico dos "folhetos" do Romanceiro Popular do Nordeste (Literatura de Cordel), com a Música de viola, rabeca ou pífano que acompanha seus "cantares", e com a Xilogravura que ilustra suas capas, assim como com o espírito e a forma das Artes e espetáculos populares com esse mesmo Romanceiro relacionados.

O Movimento Armorial surgiu sob a inspiração e direção de Ariano Suassuna, com a colaboração de um grupo de artistas e escritores da região Nordeste do Brasil e o apoio do Departamento de Extensão Cultural da Pró-Reitoria para Assuntos Comunitários da Universidade Federal de Pernambuco.

Teve início no âmbito universitário, mas ganhou apoio oficial da Prefeitura do Recife e da Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco.

Foi lançado oficialmente, no Recife, no dia 18 de outubro de 1970, com a realização de um concerto e uma exposição de artes plásticas realizados no Pátio de São Pedro, no centro da cidade.
Seu objetivo foi o de valorizar a cultura popular do Nordeste brasileiro, pretendendo realizar uma arte brasileira erudita a partir das raízes populares da cultura do País.

Segundo Suassuna, sendo "armorial" o conjunto de insígnias, brasões, estandartes e bandeiras de um povo, a heráldica é uma arte muito mais popular do que qualquer coisa. Desse modo, o nome adotado significou o desejo de ligação com essas heráldicas raízes culturais brasileiras.
O Movimento tem interesse pela pintura, música, literatura, cerâmica, dança, escultura, tapeçaria, arquitetura, teatro, gravura e cinema.

Uma grande importância é dada aos folhetos do romanceiro popular nordestino, a chamada literatura de cordel, por achar que neles se encontram a fonte de uma arte e uma literatura que expressa as aspirações e o espírito do povo brasileiro, além de reunir três formas de arte: as narrativas de sua poesia, a xilogravura, que ilustra suas capas e a música, através do canto dos seus versos, acompanhada por viola ou rabeca.
São também importantes para o Movimento Armorial, os espetáculos populares do Nordeste, encenados ao ar livre, com personagens míticas, cantos, roupagens principescas feitas a partir de farrapos, músicas, animais misteriosos como o boi e o cavalo-marinho do bumba-meu-boi.
O mamulengo ou teatro de bonecos nordestino também é uma fonte de inspiração para o Movimento, que procura além da dramaturgia, um modo brasileiro de encenação e representação.

Congrega nomes importantes da cultura pernambucana. Além do próprio Ariano Suassuna, Francisco Brennand, Raimundo Carrero, Gilvan Samico, entre outros, além de grupos como o Balé Armorial do Nordeste, a Orquestra Armorial de Câmara, a Orquestra Romançal e o Quinteto Armorial.

JOÃO CABRAL DE MELO NETO

João Cabral de Melo Neto nasceu na cidade de Recife - PE, no dia 09 de janeiro de 1920, na rua da Jaqueira (depois Leonardo Cavalcanti), segundo filho de Luiz Antônio Cabral de Melo e de Carmem Carneiro-Leão Cabral de Melo. Primo, pelo lado paterno, de Manuel Bandeira e, pelo lado materno, de Gilberto Freyre. Passa a infância em engenhos de açúcar. Primeiro no Poço do Aleixo, em São Lourenço da Mata, e depois nos engenhos Pacoval e Dois Irmãos, no município de Moreno.

Em 1930, com a mudança da família para Recife, inicia o curso primário no Colégio Marista. João Cabral era um amante do futebol, tendo sido campeão juvenil pelo Santa Cruz Futebol Clube em 1935.

Em 1940 viaja com a família para o Rio de Janeiro, onde conhece Murilo Mendes. Esse o apresenta a Carlos Drummond de Andrade e ao círculo de intelectuais que se reunia no consultório de Jorge de Lima. No ano seguinte, participa do Congresso de Poesia do Recife, ocasião em que apresenta suas Considerações sobre o poeta dormindo.

1942 marca a publicação de seu primeiro livro, Pedra do Sono. Em novembro viaja, por terra, para o Rio de Janeiro. Convocado para servir à Força Expedicionária Brasileira (FEB), é dispensado por motivo de saúde. Mas permanece no Rio, sendo aprovado em concurso e nomeado Assistente de Seleção do DASP (Departamento de Administração do Serviço Público). Freqüenta, então, os intelectuais que se reuniam no Café Amarelinho e Café Vermelhinho, no Centro do Rio de Janeiro. Publica Os três mal-amados na Revista do Brasil.

O engenheiro é publicado em 1945, em edição custeada por Augusto Frederico Schmidt. Faz concurso para a carreira diplomática, para a qual é nomeado em dezembro. Começa a trabalhar em 1946, no Departamento Cultural do Itamaraty, depois no Departamento Político e, posteriormente, na comissão de Organismos Internacionais. Em fevereiro, casa-se com Stella Maria Barbosa de Oliveira, no Rio de Janeiro. Em dezembro, nasce seu primeiro filho, Rodrigo.
Toma posse na Academia em 06 de maio de 1969, na cadeira número 6, sendo recebido por José Américo de Almeida. A Companhia Paulo Autran encena Morte e vida severina em diversas cidades do Brasil. É removido para a embaixada de Assunção, no Paraguai, como ministro conselheiro. Torna-se membro da Hispania Society of America e recebe a comenda da Ordem de Mérito Pernambucano.

Após três anos em Assunção, é nomeado embaixador em Dacar, no Senegal, cargo que exerce cumulativamente com o de embaixador da Mauritânia, no Mali e na Giné-Conakry.
Em 1974 é agraciado com a Grã-Cruz da Ordem de Rio Branco. No ano seguinte publica Museu de Tudo, que recebe o Grande Prêmio de Crítica da Associação Paulista de Críticos de Arte. É agraciado com a Medalha de Humanidades do Nordeste.
Em 1976 é condecorado Grande Oficial da Ordem do Mérito do Senegal e, em 1979, como Grande Oficial da Ordem do Leão do Senegal. É nomeado embaixador em Quito, Equador e publica A escola das facas.

A convite do governador de Pernambuco, vai a Recife (em 1980) para fazer o discurso inaugural da Ordem do Mérito de Guararapes, sendo condecorado com a Grã-Cruz da Ordem. Ali é inaugurada uma exposição bibliográfica de sua obra, no Palácio do Governo de Pernambuco, organizada por Zila Mamede. Recebe a Comenda do Mérito Aeronáutico e a Grã-Cruz do Equador.
No ano seguinte vai para Honduras, como embaixador. Publica a antologia Poesia crítica.
Em 1982 é agraciado com o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Vai para a cidade do Porto, em Portugal, como cônsul geral. Recebe o Prêmio Golfinho de Ouro do Estado do Rio de Janeiro. Publica Auto do frade, escrito em Tegucigalpa.
Ganha o Prêmio Moinho Recife, em 1984 e, no ano seguinte, publica os poemas de Agrestes. Nesse livro há uma sessão dedicada à morte ("A indesejada das gentes"). Em 1986 é agraciado com o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal de Pernambuco. Sua esposa, Stella Maria, falece no Rio de Janeiro. João Cabral reassume o Consulado Geral no Porto. Casa-se em segundas núpcias com a poeta Marly de Oliveira.
Em 1987 publica Crime na Calle Relator, poemas narrativos. Recebe o prêmio da União Brasileira de Escritores. É removido para o Rio de Janeiro.
Em Recife, no ano de 1988, lança sua antologia Poemas pernambucanos. Publica, também, o segundo volume de poesias completas: Museu de tudo e depois. Recebe o Prêmio da Bienal Nestlé de Literatura pelo conjunto da obra, e o Prêmio Lily de Carvalho da ABCL, Rio de Janeiro.

Aposenta-se como embaixador em 1990 e publica Sevilha andando. É eleito para a Academia Pernambucana de Letras, da qual havia recebido, anos antes, a medalha Carneiro Vilela. Recebe os seguintes prêmios: Criadores de Cultura da Prefeitura do Recife, Luis de Camões (concedido conjuntamente pelos governos de Portugal e do Brasil), em Lisboa. É condecorado com a Grã-Cruz da Ordem do Mérito Judiciário e do Trabalho. A Faculdade Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro publica Primeiros Poemas.

Outros prêmios: Pedro Nava (1991) pelo livro Sevilha andando; Casa das Américas, concedido pelo Estado de São Paulo (1992); e também nesse ano o Neustadt International Prize for Literature, da Universidade de Oklahoma. Viaja a Sevilha para representar o presidente da República nas comemorações do dia 7 de Setembro, que tiveram lugar na Exposição do IV Centenário da Descoberta da América. No Pavilhão do Brasil, foi distribuída sua antologia Poemas sevilhanos, em edição especial. No Rio de Janeiro, na Casa da Espanha, recebe do embaixador espanhol a Grã-Cruz da Ordem de Isabel, a Católica.
Em 1993 recebe o Prêmio Jabuti, instituído pela Câmara Brasileira do Livro.

João Cabral era atormentado por uma dor de cabeça que não o deixava de forma alguma. Ao saber, anos atrás, que sofria de uma doença degenerativa incurável, que faria sua visão desaparecer aos poucos, o poeta anunciou que ia parar de escrever. Já em 1990, com a finalidade de ajudá-lo a vencer os males físicos e a depressão, Marly, sua segunda esposa, passa a escrever alguns textos tidos como de autoria do biografado. Conforme declarações de amigos, escreveu o discurso de agradecimento feito pelo autor ao receber o Prêmio Luis de Camões, considerado o mais importante prêmio concedido a escritores da língua portuguesa, entre outros. Foi a forma encontrada para tentar tirá-lo do estado depressivo em que se encontrava. Como não admirava a música, o autor foi perdendo também a vontade de falar ("Não tenho muito o que dizer", argumentava). Era, sem dúvida, o nosso mais forte concorrente ao prêmio Nobel, com diversas indicações dos mais variados segmentos de nossa sociedade.

Transcrevemos abaixo o discurso proferido por Arnaldo Niskier, presidente da Academia Brasileira de Letras, por ocasião da morte do poeta, em 09/10/99:

"Adeus a João Cabral"

"Severino retirante,
deixe agora que lhe diga:
eu não sei bem a resposta
da pergunta que fazia,
se não vale mais saltar
fora da ponte e da vida;
nem conheço essa resposta,
se quer mesmo que lhe diga;
é difícil defender,
só com palavras, a vida,
ainda mais quando ela é
esta que vê, Severina;
mas se responder não pude
à pergunta que fazia
ela, a vida, a respondeu
com sua presença viva."

Vida que foi para João Cabral uma bonita e ao mesmo tempo sofrida obra de engenharia poética, como demonstrou no seu inesquecível Morte e Vida Severina.
Aqui está o poeta João Cabral de Melo Neto, presente pela última vez na Academia Brasileira de Letras, de que foi, por 30 anos, uma das figuras fundamentais. Aos 79 anos, apaga-se a voz de significação universal, com a singularidade do seu verso, tantas vezes lembrado para a glória do Prêmio Nobel de Literatura.
A nossa dor, que é também a da sua companheira Marly de Oliveira e dos seus filhos e demais parentes, não apaga da nossa memória a convicção de que foi ele um dos maiores poetas brasileiros de todos os tempos - o poeta da razão - que jamais esqueceu, mesmo nos 40 anos de vida diplomática, as suas raízes pernambucanas. O homem que soube desenhar em versos cálidos a saga do retirante nordestino, quando ainda não havia passado dos 35 anos de idade.
João Cabral, o poeta João, que não se conformava em perfumar a flor, é o mesmo que escreveu aos 22 anos o livro Pedra do Sono, para depois nos brindar, entre outros, com O engenheiro, O cão sem plumas, Poesias completas, A educação pela pedra e o antológico Morte e Vida Severina, com versões no teatro e na mídia eletrônica.
Fecham-se os olhos cansados do poeta João e não conseguimos realizar o sonho que agora desvendo: ver o América Futebol Clube voltar aos seus dias de glória. Nem o daqui do Rio, nem aquele que era a sua verdadeira paixão: o América do Recife.

ASCENSO FERREIRA

Hora de comer — comer!
Hora de domir - dormir !
Hora de vadiar - vadiar !
Hora de trabalhar ?
- Pernas pro ar que ninguém é de ferro !



Poeta pernambucano, Ascenso Carneiro Gonçalves Ferreira nasceu na cidade de Palmares no ano de 1895. Dizem que começou a atividade literária enganado, compondo sonetos, baladas e madrigais. Depois da "Semana de Arte Moderna" e sob a influência de Guilherme de Almeida, Manuel Bandeira e de Mário de Andrade, tomou rumos novos e achou um caminho que o conduziria a uma situação de relevo nas letras pernambucanas e nacionais. Voltou-se para os temas regionais de sua terra que foram reunidos em seus livros "Catimbó" (1927), "Cana caiana" (1939), "Poemas 1922-1951" (1951), "Poemas 1922-1953" (1953), "Catimbó e outros poemas" (1963), "Poemas" (1981) e "Eu voltarei ao sol da primavera" (1985). Foram publicados postumamente, em 1986, "O Maracatu", "Presépios e Pastoris" e "O Bumba-Meu-Boi: Ensaios Folclóricos", em livro organizado por Roberto Benjamin. Distingue-se não pela quantidade, mas pela qualidade, atingindo não raro efeitos novos, originais, imprevistos, em matéria de humorismo e sátira. O poeta faleceu na cidade do Recife (PE), em 1965.

ANTONIO MARIA

"Às vezes, me sinto muito só. Sem ontem e sem amanhã. Não adianta que haja pessoas em volta de mim. Mesmo as mais queridas. Só se está só ou acompanhado, dentro de si mesmo. Estou muito só hoje. Duas ou três lembranças que me fizeram companhia, desde segunda-feira, eu já gastei. Não creio que, amanhã, aconteça alguma coisa de melhor."
(O diário de Antônio Maria)

Antônio Maria Araújo de Morais nasceu no Recife, em 17 de março de 1921 e faleceu em 15 deoutubro de 1964. Filho de Inocêncio Ferreira de Morais e Diva Araújo de Morais. Junto com os irmãos Rodolfo, Maria das Dores, Consuelo, e inúmeros primos, teve uma infância feliz, conforme se depreende de suas crônicas sobre os bons momentos desfrutados, nessa época, em sua terra natal. Nelas nos conta sobre a mãe carinhosa, os tempos de colégio, as aulas de música, as lições de francês, os mergulhos no rio e os "banhos salgados", as férias na usina Cachoeira Lisa, deixada por seu avô materno, Rodolfo Araújo.
Já mocinho, nos fala de suas aventuras: "Quando eu fiz quinze anos, ganhei um relógio de pulso e 5 mil réis. Olhei os ponteiros, vi que era hora de fazer uma besteira e entrei num botequim. Estávamos veraneando em Boa Viagem e, quando era de tardinha, o pessoal da minha idade vinha, de banho tomado e roupa limpa, inventar mentira sobre as moças — namoros, bolinagens veladas, agrados sinistros, tudo mentira, tudo imaginação. No dia dos meus anos, em vez de conversar essas coisas, compramos uma garrafa de Bagaceira Pingo de Uva e eu, sozinho, para ganhar uma aposta de dois mil réis, bebi toda. Anoiteceu, me deixaram na praia, a maré cresceu e me levou. Quem deu por mim foi um negro chamado Paulo, que tinha ido molhar os pés na franja da onda. Não sabia onde eu morava, nem o nome de minha mãe. Saiu, andando comigo no ombro, perguntando a todo mundo e, aos poucos, mais de cem pessoas acompanhavam o menino bêbedo, desacordado, que o mar ia levando. Quando acordei eram três da madrugada e minhas irmãs choravam ao pé da minha cama. Quando compreendi a gravidade daquele momento, comecei a chorar também — choramos em coro, cinco pessoas, até seis horas, sem dizer uma palavra, quando dormimos abraçados, com pecado e o sofrimento lavados pelas nossas lágrimas quentes."
Seu primeiro emprego, aos 17 anos, foi o de apresentador de programas musicais na Rádio Clube Pernambuco. Vencido o primeiro degrau, no ano de 1940, mês de março, vem para o Rio a bordo do Ita "Almirante Jaceguai", "com quatro roupas novas e cinco contos no bolso", para ser locutor esportivo na Rádio Ipanema. A cidade tinha 1.764.411 habitantes. Quase todos cantavam que o passarinho do relógio está maluco, achavam que a Elvira Pagã era uma uva e fingiam não ver , no prédio moderninho do Ministério da Educação e Cultura (MEC) que Carlos Drummond de Andrade e Sérgio Buarque de Holanda (pai do Chico) bancavam os antigos e se estapeavam, óculos quebrados, por causa de um xodó comum. Foi direto do Ita para o apartamento 1.005 do edifício Souza, na Cinelândia, onde passou a morar ao lado de Fernando Lobo e Abelardo Barbosa, o futuro rei dos auditórios Chacrinha, também pernambucanos. Também vivia por lá Dorival Caymmi e o pintor Augusto Rodrigues. Ficou pouco tempo por aqui — 10 meses — sem ser notado. Passou fome, foi humilhado e preso. Retornou ao Recife e se casou, em maio de 1944, com Maria Gonçalves Ferreira.
Graças ao dinheiro que o governo Getúlio Vargas despejou em troca de apoio político, no fim de 1952 a rádio Mayrink Veiga partiu para o ataque contra a Tupi e passou a contratar seus grandes nomes. Antônio Maria foi um dos primeiros contratados, por 50 mil cruzeiros, o mais alto salário do rádio no Brasil. Logo comprou seu primeiro Cadillac, símbolo de status entre os reis do rádio naquela época. Na televisão era famoso o programa "Preto no Branco", de Oswaldo Sargentelli, onde sempre aparecia uma "pergunta de Antônio Maria, da produção do programa", geralmente muito embaraçosa. Fez, com Ary Barroso, durante todo o ano de 1957, um programa de sucesso: "Rio, Eu Gosto de Você", na TV Rio. Maria gostava de alfinetar os entrevistados. Um dia perguntou a Sandra Cavalcanti, candidata a deputada: "Quer dizer, dona Sandra, que a senhora é mal-amada?" A resposta de Sandra, dizem os espectadores da cena, assegurou-lhe a eleição. — Posso até ser, senhor Maria, mas não fui eu que fiz aquela música Ninguém me ama.Com Paulo Soledade, assinou alguns shows na boate Casablanca e, em 1953, chegou a subir toda noite ao palco do Night and Day, no Edifício Serrador, localizado no centro do Rio, para apresentar "A Mulher é o Diabo", revista de Ary Barroso. Era um homem de 7 instrumentos, como se dizia.
Mesmo sendo uma pessoa extrovertida e de muitos amigos (e inimigos), Maria, como era chamado por eles, sempre teve a solidão dentro de si. Um exemplo está em sua crônica "Oração", escrita em 30-03-1954: "Rosinha Desossée, me tire desse quarto de hotel e de todas as coisas que entram pela janela; me leve para longe das palmeiras, mais longe e perto das coisas mais macias; me faça esquecer (depressa) os homens ruins — isto é: os que gostam de cebola crua; me ensine, Rosinha Desossée, tudo o que eu não aprendi: a cortar com a mão direita, a usar anel, a tocar piano, a desenhar uma árvore e valsar; e me lembre do que eu esqueci — raiz quadrada, (as mais ordinárias), frações, latim, geofísica e "Navio Negreiro", de Castro Alves; depois, me dê, pelo bem dos seus filhinhos, aquilo que eu não tenho há quase um ano, carinho — de um jeito que eu não sei dizer como é, mas que há, por aí ou, pelo menos, já houve; destelhe a casa, deixe a noite entrar e, juntos, vamos nos resfriar; espirre de lá, que eu espirro de cá... agora, cada um com a sua bombinha, inalação, inalação; lado a lado, sentemos, os dois de perfil para o ventilador; minhas mãos e as suas não são de ninguém, entendido?; se interesse por mim e pergunte o que eu sei, que eu quero exclamar, no mais puro francês: "oh!"..."comment allez vous"? (...) de um jeito ou de outro, me tire daqui, pra Pérsia, Sibéria, pro Clube da Chave, pra Marte, Inglaterra, sem couvert, sem couvert; está vendo o retrato dos meus 20 anos? de lá para cá, cansaço, pé chato, gordura, calvície fizeram de mim essa coisa ansiosa, insegura e com sono, que pede a você, no auge do manso: você, Desossée, não saia esta noite e fique, ao meu lado, esperando que o sono me tome e me mate, me salve e me leve, por amor ao teu andar, assim seja..."
Cronista, locutor esportivo, produtor de rádio, compositor de jingles, é dele essa pequena jóia literária, interpretada por Dircinha Batista, para o remédio Aurissedina:
"Se a criança acordouDoooooorme, doooooorme filhinhaTudo calmo ficouMamãe tem Aurissedina"
Livros:
- O Jornal de Antônio Maria - Editora Saga/1968 - seleção de Ivan Lessa.- Com vocês, Antônio Maria - Editora Paz e Terra/1994 - seleção de Alexandra Bertola.- Benditas sejam as moças: As crônicas de Antônio Maria - Editora Civilização Brasileira/2002 - organização Joaquim Ferreira dos Santos.- O diário de Antônio Maria - Editora Civilização Brasileira/2002 - Joaquim Ferreira dos Santos (apresentação).
Sobre o autor:
- Antônio Maria: noites de Copacabana - Editora Relume-Dumará/1996 - Joaquim Ferreira dos Santos - Coleção "Perfis do Rio".Teatro:- Brasileiro, Profissão: Esperança, musical com Clara Nunes e Paulo Gracindo, textos de Paulo Fontes e direção de Bibi Ferreira.- A noite é uma criança; musical que tem o roteiro e a atuação de Marcos França, acompanhado de Claudia Ventura e Alexandre Dantas Teatro Maria Clara Machado (Planetário), Rio de Janeiro - 2004.Discos:- Brasileiro, Profissão: Esperança, gravação ao vivo do musical de mesmo nome, com Paulo Gracindo e Clara Nunes, I. E. M. Fábricas Odeon S.A., 1974.

domingo, 13 de abril de 2008

MAURO MOTA

Mauro Ramos da Mota e Albuquerque nasceu no Recife, a 16 de agosto de 1911, filho de José Feliciano Mota Albuquerque, advogado, e Aline de M. Albuquerque. Era casado com Marly Mota, com quem teve 4 filhos: Maurício Mota, Eduardo Mota, Sérgio Mota e Tereza Alexandrina Mota. Com Hermantine Cortez, sua primeira esposa, teve 2 filhos: Roberto Mota e Luciana Mota. Passou a infância em Nazaré da Mata, Pernambuco, zona açucareira, onde fez parte do curso primario. Em 1924, voltou para o Recife, hospedando-se na casa do avó. Matriculado no ginásio do Recife, dois anos depois passou para o colégio Salesiano, cultivando amizade com Álvaro Lins. No Colégio, o padre Nestor de Alencar ensinou-o a fazer versos e publicou os primeiros trabalhos em "0 Colegial", jornal dirigido pelo religioso.
Em 1928, voltou ao Ginásio do Recife, para fazer os preparatórios, com Alvaro Lins. No Ginásio, encontrou os irmãos Condé, José e João. Os três se iniciaram no jornalismo, escrevendo em "A pilhéria" e na "Revista da Cidade". Pertenceu, durante algum tempo, ao Silogeu Pernambucano de Letras e, posteriormente, ingressou na Academia Recifense de Letras. Em 1937, bacharelou-se Dela Faculdade de Direito do Recife. Formado, continuou no jornalismo. Trabalhou no antigo "Diário da Manhã", e chegou a ser Secretário e redator-chefe.
Em 1941, entrou para o magistério e para o "Diário de Pernambuco", exercendo a direção do jornal a partir de 1956. Como secretário, em 1948, reformou o suplemento do jornal Mais antigo da América Latina, abrindo-o aos novos valores do Nordeste e iniciando a secção de meia página, até hoje mantida, de comentários e informações sobre livros e autores.
Em 1928, voltou ao Ginásio do Recife, para fazer os preparatórios, com Alvaro Lins. No Ginásio, encontrou os irmãos Condé, José e João. Os três se iniciaram no jornalismo, escrevendo em "A pilhéria" e na "Revista da Cidade". Pertenceu, durante algum tempo, ao Silogeu Pernambucano de Letras e, posteriormente, ingressou na Academia Recifense de Letras. Em 1937, bacharelou-se Dela Faculdade de Direito do Recife. Formado, continuou no jornalismo. Trabalhou no antigo "Diário da Manhã", e chegou a ser Secretário e redator-chefe.
Em 1941, entrou para o magistério e para o "Diário de Pernambuco", exercendo a direção do jornal a partir de 1956. Como secretário, em 1948, reformou o suplemento do jornal Mais antigo da América Latina, abrindo-o aos novos valores do Nordeste e iniciando a secção de meia página, até hoje mantida, de comentários e informações sobre livros e autores.
No ano de 1952, publicou alguns poemas reunidos no volume "Elegias", editado pelo "Jornal de Letras". Prefaciado por Álvaro Lins, o livro recebeu prêmios da Academia Brasileira Letra de Letras e da Academia Pernambucana de Letras. Publicou outras obras, entre as quais: "A Tecelã"(poemas), 1957; "Os Epitáfios" (poemas), 1959; "0 Galo e o Cata-Vento" (versos), 1962; consolidando cada vez mais, sua posição de poeta. Em 1955, tornou-se catedrático, por concurso, de Geografia do Brasil, no Instituto de educação de Pernambuco. Apresentou a tese "0 Cajueiro Nordestino". Em 15 de março de 1556 foi nomeado pelo Presidente da República Juscelino Kubitschek para o cargo de Diretor a Executivo do Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, órgão do Ministério da Educação e Cultura, permanecendo até 1970.
Ocupou também o cargo de Diretor do Departamento de Cultura da Secretaria de Educação e Cultura de Pernambuco e de Diretor do Arquivo Público Estadual de Pernambuco. Em 05 de janeiro de 1970 é eleito para a Academia Brasileira de Letras, na vaga de Gilberto Amado, tomando posse a 28 de agosto de 1970. Foi membro do Conselho Estadual de Cultura de Pernambuco e da Academia Pernambucana de Letras e sócio correspondente, em Pernambuco, das Academias de Letras Paulista, mineira, paraibana e alagoana. Recebeu inúmeras honrarias, entre as quais: Medalha Pernambucana do Mérito (1963), Comenda da Fundação Cultural Manuel Bandeira (Campina Grande-PB,1971), Medalha Joaquim Nabuco, da Assembléia Legislativa dó Estado de Pernambuco. Faleceu, no Recife, a 22 de novembro de 1984.

BIOGRAFIA DE MACHADO DE ASSIS



(...) Assim são as páginas da vida, como dizia meu filho quando fazia versos, e acrescentava que as páginas vão passando umas sobre as outras, esquecidas apenas lidas.

Joaquim Maria Machado de Assis, cronista, contista, dramaturgo, jornalista, poeta, novelista, romancista, crítico e ensaísta, nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 21 de junho de 1839. Filho de um operário mestiço de negro e português, Francisco José de Assis, e de D. Maria Leopoldina Machado de Assis, aquele que viria a tornar-se o maior escritor do país e um mestre da língua, perde a mãe muito cedo e é criado pela madrasta, Maria Inês, também mulata, que se dedica ao menino e o matricula na escola pública, única que freqüentará o autodidata Machado de Assis.
De saúde frágil, epilético, gago, sabe-se pouco de sua infância e início da juventude. Criado no morro do Livramento, consta que ajudava a missa na igreja da Lampadosa. Com a morte do pai, em 1851, Maria Inês, à época morando em São Cristóvão, emprega-se como doceira num colégio do bairro, e Machadinho, como era chamado, torna-se vendedor de doces. No colégio tem contato com professores e alunos e é até provável que assistisse às aulas nas ocasiões em que não estava trabalhando.
Mesmo sem ter acesso a cursos regulares, empenhou-se em aprender. Consta que, em São Cristóvão, conheceu uma senhora francesa, proprietária de uma padaria, cujo forneiro lhe deu as primeiras lições de Francês. Contava, também, com a proteção da madrinha D. Maria José de Mendonça Barroso, viúva do Brigadeiro e Senador do Império Bento Barroso Pereira, proprietária da Quinta do Livramento, onde foram agregados seus pais
Aos 16 anos, publica em 12-01-1855 seu primeiro trabalho literário, o poema "Ela", na revista Marmota Fluminense, de Francisco de Paula Brito. A Livraria Paula Brito acolhia novos talentos da época, tendo publicado o citado poema e feito de Machado de Assis seu colaborador efetivo.
Começa a publicar obras românticas e, em 1859, era revisor e colaborava com o jornal Correio Mercantil. Em 1860, a convite de Quintino Bocaiúva, passa a fazer parte da redação do jornal Diário do Rio de Janeiro. Além desse, escrevia também para a revista O Espelho (como crítico teatral, inicialmente), A Semana Ilustrada(onde, além do nome, usava o pseudônimo de Dr. Semana) e Jornal das Famílias.
Seu primeiro livro foi impresso em 1861, com o título Queda que as mulheres têm para os tolos, onde aparece como tradutor. No ano de 1862 era censor teatral, cargo que não rendia qualquer remuneração, mas o possibilitava a ter acesso livre aos teatros. Nessa época, passa a colaborar em O Futuro, órgão sob a direção do irmão de sua futura esposa, Faustino Xavier de Novais. Publica seu primeiro livro de poesias em 1864, sob o título de Crisálidas. Seu primeiro romance, Ressurreição, foi publicado em 1872. Com a nomeação para o cargo de primeiro oficial da Secretaria de Estado do Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, estabiliza-se na carreira burocrática que seria o seu principal meio de subsistência durante toda sua vida.
Sua primeira peça teatral é encenada no Imperial Teatro Dom Pedro II em junho de 1880, escrita especialmente para a comemoração do tricentenário de Camões, em festividades programadas pelo Real Gabinete Português de Leitura.
Publica, em 1881, um livro extremamente original , pouco convencional para o estilo da época: Memórias Póstumas de Brás Cubas -- que foi considerado, juntamente com O Mulato, de Aluísio de Azevedo, o marco do realismo na literatura brasileira.

Grande amigo do escritor paraense José Veríssimo, que dirigia a Revista Brasileira, em sua redação promoviam reuniões os intelectuais que se identificaram com a idéia de Lúcio de Mendonça de criar uma Academia Brasileira de Letras. Machado desde o princípio apoiou a idéia e compareceu às reuniões preparatórias e, no dia 28 de janeiro de 1897, quando se instalou a Academia, foi eleito presidente da instituição, cargo que ocupou até sua morte, ocorrida no Rio de Janeiro em 29 de setembro de 1908. Sua oração fúnebre foi proferida pelo acadêmico Rui Barbosa.

É o fundador da cadeira nº. 23, e escolheu o nome de José de Alencar, seu grande amigo, para ser seu patrono.
Por sua importância, a Academia Brasileira de Letras passou a ser chamada de Casa de Machado de Assis.
Dizem os críticos que Machado era "urbano, aristocrata, cosmopolita, reservado e cínico, ignorou questões sociais como a independência do Brasil e a abolição da escravatura. Passou ao longe do nacionalismo, tendo ambientado suas histórias sempre no Rio, como se não houvesse outro lugar. ... A galeria de tipos e personagens que criou revela o autor como um mestre da observação psicológica. ... Sua obra divide-se em duas fases, uma romântica e outra parnasiano-realista, quando desenvolveu inconfundível estilo desiludido, sarcástico e amargo. O domínio da linguagem é sutil e o estilo é preciso, reticente. O humor pessimista e a complexidade do pensamento, além da desconfiança na razão (no seu sentido cartesiano e iluminista), fazem com que se afaste de seus contemporâneos."