terça-feira, 8 de junho de 2010

Evocação do Recife


[…]
Me lembro de todos os pregões:
Ovos frescos e baratos
Dez ovos por uma pataca
Foi há muito tempo...
A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros
Vinha da boca do povo na língua errada do povo
Língua certa do povo
Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil
Ao passo que nós
O que fazemos
É macaquear
A sintaxe lusíada
A vida com uma porção de coisas que eu não entendia bem
Terras que não sabia onde ficavam
Recife...
Rua da União...
A casa de meu avô...
Nunca pensei que ela acabasse!
Tudo lá parecia impregnado de eternidade
Recife...
Meu avô morto.
Recife morto, Recife bom, Recife brasileiro
como a casa de meu avô.


Manuel Bandeira



Sobre o Autor

Professor de literatura, crítico literário, tradutor brasileiro, o poeta e prosador recifense Manuel Bandeira (1886-1968) é um dos precursores do modernismo brasileiro, o que levou Mário de Andrade a mencioná-lo como "São João Batista do modernismo brasileiro". Eleito para a Academia Brasileira de Letras, onde ocupou a cadeira 24, Manuel Bandeira foi sepultado no mausoléu da Academia, no Rio de Janeiro.

Nenhum comentário: