terça-feira, 1 de julho de 2008

MEU PRIMEIRO CORDEL




Depois do céu solitário
Pôr um manto azul e largo
Em janeiro e fevereiro
Um homem foi ver a data
Num bloco a lentas passadas,
Roçando sobre ele o dedo.

Buscou logo o mês de março
Com o seu olhar cansado,
De quem vê num dia um mês.
Viu-se ao dia dezenove.
E viu que a esperança morre,
Mas também nasce outra vez.

Eu fiquei no meu lugar:
Um matuto a matutar,
Perguntando pra mim mesmo.
Pra perguntas assim feitas,
Não existe resposta feita,
E, se existir, é segredo.

Pegou seu chapéu de palha,
Largou nas costas a enxada,
E a sementeira nos quartos.
Partiu sem tristeza alguma,
Andou três horas em uma
Na direção do roçado.

A rapidez não foi tanto!
Incrível é dizer que quando
Levantou a sua enxada
Pra começar seu ofício
Este último sacrifício
Já tava debaixo d’água.

Lamentou não ir á missa
- uma atitude postiça-
E fez o Sinal-da-Cruz.
Cavava, chorava, ria,
Rezava ao santo do dia
E agradecia a Jesus.

Em cada cova três grãos
De milho e de gratidão.
Mesmo plantando era grato
Só por já poder sonhar,
Um sonho poder plantar
Mesmo que não fosse ao pranto.

Até aí não dissera
Uma palavra sequer.
Enfim gritou: São José!
Louvado seja o teu nome!
Bebo sede, como fome
Na mesa cheia de Fé!

O tempo desliza solto,
E em silêncio nascem brotos,
Depois pendões e as espigas
-Bonecas soltando ao vento
Cabelos sem pensamento
Lavados por leve brisa.

É colheta. É culinária.
É a resposta esperada:
Comida na mesa posta
Que a São João foi pedida
E,por São João, trazida,
Escolha a que você gosta!


Robervânio Luciano (Poeta/Escritor, Professor, membro da Academia)

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